O Governo Dilma acabou oficialmente na sexta-feira (2/10).
O que leva um governo achar que, apenas oito meses após a configuração de seu ministério, o mesmo não serve para nada? A resposta? Salvar o inevitável... O impeachment.
Imagina-se que, dando ao principal partido de sua base política, o PMDB, boa parte dos ministérios, o seu apoio estará garantido pelo menos no que tange a uma eventual votação do impeachment da presidente. Um espetáculo deprimente. Tal movimento é o ápice do mais absoluto descontrole moral a que a política brasileira foi levada. E o pior... É um movimento pífio do ponto de vista de sua eficácia... Apenas ganha-se tempo.
E sabem por quê? Porque a dinâmica econômica engolirá tudo... Tudo que vier pela frente, até mesmo esse espetáculo deprimente.
Abaixo, apenas pra ficar em alguns deles, temos alguns gráficos que nos ajudam a refletir em que estágio o Brasil se encontra.
- Juros e bonds de 10 anos do Tesouro Brasileiro em forte tendência de alta.
- PIB em forte tendência de baixa
- Desemprego em forte tendência de alta.
Taxa Selic - Brasil
Fonte: global-rates.com
Bonds 10 anos Tesouro Brasil
Fonte: tradingeconomics.com
PIB Brasil- taxa de crescimento anual
Fonte: tradingeconomics.com
Taxa de desemprego
Fonte: tradingeconomics.com
Cada uma dessas variáveis se autoalimenta ao interagir com a outra, numa dinâmica que aprofunda cada variável no médio-longo prazo. A má notícia é que os estágios a que chegaram todas nos mostram uma aceleração muito além do razoável, indicando-nos que o pior, por incrível que pareça, ainda está por vir.
Uma pergunta que pode surgir para o mais desavisado é quanto à explosão das taxas de juros no início de 1999, logo após a desvalorização do real frente ao dólar, no exato instante em que o governo Fernando Henrique Cardoso introduziu a flutuação do câmbio. Os momentos são claramente distintos.
O Governo FHC, a despeito de não dispor do mesmo tamanho de reservas internacionais desse atual governo, dada a bolha de commodities que atingiu o mundo no período 2004-2011, dispunha de credibilidade. A explosão das taxas de juros em 1999 para o patamar de 45% ao ano não carregava um pano de fundo sombrio, carregava um pano de fundo de reformas econômicas, próprias do Plano Real, e reformas aprofundadas nesse mesmo ano de 1999, cujo clímax foi atingido em 2000-2001 com a adoção da Lei da Responsabilidade Fiscal. Tais reformas, aliadas a já forte credibilidade do Governo FHC e de uma injeção de liquidez do FMI, provocaram uma rápida reversão de expectativas meses depois, capaz de reduzir drasticamente as exorbitantes taxas de juros, movimentos que, no todo, voltaram a trazer a excelente trajetória do Plano Real para o "estágio normal" beneficiando toda a economia.
Esse pano de fundo, esse cenário, essa credibilidade é tudo menos o que o atual governo de Dilma Rousseff dispõe. Não temos nada hoje. O Brasil não tem mais nada a oferecer aos agentes econômicos e aos investidores nacionais ou internacionais de maneira a reverter a trajetória econômica extremamente negativa de hoje.
O patamar em que nos encontramos coloca a economia em primeiro plano; e não o político. O componente político irá ser tragado, sugado, mais cedo ou mais tarde, para a realidade. Quanto mais tempo esse cenário não for visualizado, maior a tensão, maior o esgarçamento, maiores, mais pesadas, mais perigosas e mais prejudiciais, para toda a "correia econômica", serão as consequências.
Ainda tem muita, mas muita gente que não "se tocou" da extrema gravidade da realidade. O setor público, sempre alheio às principais mudanças no país, é o principal ator nesse cenário. "Parece que não é com ele".
Você do setor público será chamado pra contribuir mais cedo ou mais tarde. Seu salário terá que ser congelado, sua empresa será privatizada, benefícios terão de ser cortados. Muita gente ainda não "se deu conta" do que está acontecendo. Ainda tentam oferecer imóveis de 100 m2 a R$ 1 milhão no Brooklin, em São Paulo, ou na Tijuca, no Rio de Janeiro. Quando essas pessoas perceberão que a festa acabou? E que todas as bolhas de ativos que se formaram nos últimos 5-6 anos serão estouradas, mais cedo ou mais tarde. Seu imóvel não valerá mais R$ 1 milhão daqui a cinco anos.....Com sorte, mas com muita sorte, valerá R$ 500 mil. Não tem mais comprador a R$ 1 milhão.....nem a R$ 900 mil.....nem a R$ 800 mil.....nem a R$ 700 mil.
O Governo Dilma acabou oficialmente sexta-feira. Vamos aguardar os próximos capítulos.
Cazuza escreveu uma música no final dos anos 80 num cenário semelhante ao atual; vivíamos um caos político, uma hiperinflação, "cortes de zero", vários congelamentos, moratória externa. A burguesia sobre a qual Cazuza escrevia parece ter mudado de lado. Mas a letra de uma de suas músicas (composição na verdade de Cazuza/George Israel/Nilo Roméro) mais contundentes parece se encaixar ao último ato do Governo Dilma Rousseff:
"Brasil"(Cazuza/George Israel/Nilo Roméro):
"Não me convidaram
Pra essa festa pobre
Que os homens armaram pra me convencer
A pagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada antes de eu nascer
Não me ofereceram Nem um cigarro
Fiquei na porta estacionando os carros
Não me elegeram Chefe de nada
O meu cartão de crédito é uma navalha
Brasil Mostra tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim